Rescaldo | FC Porto 0 vs. 0 SC Braga

Imbicto leitor,

Hoje estou sem tempo, mas ainda com o suficiente para resumir e não deixar passar em branco o que ontem se passou, no Dragão.

Vejamos… Devemos separar duas realidades e depois analisar a interdependência de ambas, quando a primeira não está a resultar.

A primeira, é a realidade da equipa, que engloba componentes técnico-tácticas, emocionais, interpretativas e analíticas de preparação para o jogo, escolha de jogadores, gestão do plantel para a convocatória e gestão do plantel durante o jogo, onde cada um dos intervenientes apresenta índices a serem corrigidos, ou rectificados pelo treinador. A segunda é a do adepto, a quem incumbe atribuir o “factor casa” que galvaniza os nossos homens para não desesperarem, a não desistirem e a lutarem, numa simbiose de emoção e de análise agregada da estratégia e do jogo; aqui intervém, portanto, o intangível. Destas, resulta a conjugação de ambas, cuja análise do jogo leva o adepto a manifestar-se, incumbindo-lhe apoiar ou rejeitar aquilo que está a ser feito em campo – acima de tudo, a forma e o momento escolhidos.

Primeira realidade: Lopetegui voltou a falhar, esteve mal na análise, esteve relativamente mal nas escolhas e voltou a ser imperceptível a mudança operada na equipa, nomeadamente depois de não ter reagido a tempo com um Braga a jogar à equipa pequena e a fazer tempo desde cedinho, ainda que de forma justificada devido à meritória e desgastante participação na LC.

Segunda realidade: o portista está mal habituado, reage mal, no momento errado e toma de ponta quem não lhe agrada – neste caso, o treinador e alguns jogadores (até Bueno, que ontem voltou a calar os que o comparam ao processo Adrián).

Conjugando realidades: assobios injustificados durante o jogo, em que a bola queima até ao desesperado adepto que deseja que todos se calem e apoiem, mas nada consegue fazer – seja pela distância inultrapassável da televisão, ou pela física inexistente de fazer sobrepor a sua voz  de revolta sobre os cepos que não se calam e que levam a equipa ao desespero e a tomar decisões absurdas (curiosamente acontece sempre com o Braga).

Quanto ao treinador, não lhe critico a escolha de Tello, de Layún, ou de Cissokho. Critico é a análise e a estranha forma como Rúben, uma vez mais, fica fora da equipa titular, num imbróglio difícil de explicar em termos tácticos, a partir dos 60 minutos, tresandando a desespero em TILT. Lopetegui voltou a deixar fugir uma oportunidade de derrapagem adversária, estando aí uma espécie de “déjà vu” da época passada, mas desta vez sem a factualidade materna do colo.

Não analisarei jogadores, até porque seria ingrato, neste momento, e porque me pareceram ser um efeito colateral das realidades que referi. Ontem, a culpa esteve, essencialmente, no treinador e nas pessoas que se dizem portistas, mas que num statement de exigência formal e não material resolvem manifestar-se de forma contrária àquilo que sempre foram os nossos princípios.

Vejam mais andebol e percebam que o FC Porto não morreu. O que morreu foi o futebol e a forma como os adeptos encaram o significado de cada jogo, nesse “aburguesamento” de cuja palavra descritiva não gosto, mas cujo tique de novo-riquismo obriga a designar.

Somos Porto, mas a mística de grande parte dos que vão ao Dragão, morreu (ou nunca chegou a existir).

Imbicto abraço!

8 pensamentos sobre “Rescaldo | FC Porto 0 vs. 0 SC Braga

  1. Bom dia! Não vi o jogo de ontem, mas pelo que li, vi e ouvi, a opinião de que Lopetegui errou (mais uma vez) antes e durante o jogo é unânime. O Porquê de deixar um dos dois melhores médios do Porto no banco, Ruben, num jogo que já é quase um clássico é um segredo que na minha opinião fica trancado naquela a que chamo a já uma incompetência masoquista de Lopetegui. Quanto aos adeptos, e falando de mim, não sei se terei mística ou não, mas creio que isso não se descobre caso aplauda ou assobie. Já fiz as 2 coisas, uma de extrema felicidade e outra de desespero. Uma coisa que não consigo fazer é aplaudir a incompetência. Gosto de dar segundas oportunidades e no caso do nosso treinador, dei-lha no início da época, obviamente na minha condição de mero adepto. Mas tento, enquanto tenho discernimento para tal, de não meter a cabeça na areia. Já vi esta época, o necessário para perceber que jamais Lopetegui será um treinador vencedor no FC Porto. Os erros são sempre os mesmos. É um filme já visto na época passada. É desgastante. E creio que é isso que cada vez mais se nota no dragão. A intolerância para com o Lopetegui é cada vez maior. A única maneira que os adeptos têm de mostrar a sua insatisfação é precisamente assobiando. Assobiar e contestar a incompetência nunca poderá ser visto como um desrespeito à equipa ou à instituição. Nasceram precisamente da contestação, os anos dourados do nosso Clube. Quando ao nível de um clube como o nosso, a incompetência em “demasia” tende a passar sem contestação, é precisamente aí que se dá o aburguesamento de um clube. Tem no “antigo” SCP um excelente exemplo do que digo. O Porto vai na segunda época de grande investimento e por enquanto zero títulos, e como disse, para já a semelhança com a época passada é assustadora. Até o pormenor de o treinador, mais uma vez, num jogo em que não ganha, ter dito que tinha a certeza que iria ser campeão. Enfim…Creio que o treinador será por esta altura uma pessoa cada vez mais isolada. Creio que até na SAD, os seus maiores apoiantes (se é que usar o plural é correcto) já começarão a duvidar de Lopetegui!

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    1. Imbicto Aires,

      Antes de mais, obrigado pelo comentário!
      Não se trata de julgar o protesto, mas antes o momento em que o protesto é feito.
      O Aires, como portista, com toda a certeza tão portista quanto eu, deve manifestar-se. Mas essa manifestação de frustração deverá compreender o momento e não a gratuitidade que aparece quase como birra.
      Ontem, aquilo que vi e ouvi foi mais um episódio lastimável de gente que assobia porque sim, numa espécie de gozo intrínseco de colocar os putos a mexer. Só que o problema é que mexem mais por dentro que por fora; andam sobre brasas.
      Ontem, eu estava maluco com o que ouvia, uma vez mais: não um acto opinativo através do assobio em jeito de reprovação no momento adequado, mas antes uma raiva desconstrutiva da parte de quem não sabe o que é jogar à bola nem assume os seus jogadores como sendo seres humanos.

      Que se assobie, mas sempre quando nada mais há a fazer, ao intervalo, ou no final. Sempre depois de apoiar, não dando o argumento do bota-abaixismo como pertinente.

      Imbicto abraço!

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  2. Caro Imbicto

    Concordo quase em pleno nas duas partes, menos com o corolário da sua interligação.

    Primeiro, porque apesar de injustos, irritantes e incomodativos, não são assim tantos os assobiadores profissionais. A questão é que quem não gosta, também não incentiva o suficiente para contrapor (generalizando, claro). Gritar, cantar, aplaudir, seja como for.

    Segundo porque os jogadores não são princesas imberbes mas sim meninos-homens que têm por obrigação estar habituados e saber lidar com assobios e coisas piores. Também é para isso que lhes pagam.

    Por último, concordo que hoje muita gente vai ao Estádio para ver um espetáculo coreográfico em que tudo deve sair conforme desejado. Esse não é o espírito original mas é um sinal dos tempos. Então o que fazer? É este novo adepto que tem que se adaptar à equipa ou será o contrário? Não sei.

    O que sei, com certeza absoluta, é que se o mais negro destino se abatesse sobre nós e e fossemos parar às profundezas dos distritais ou CNS ou algo do género, seriamos ainda muitos a acompanhá-los em todos os jogos e a trazê-los ao colo de volta ao topo. Certeza absoluta.

    Abraço portista
    LAeB

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    1. Amigo e imbicto LAeB,

      Trata-se de gratuitidade imediatista. Superficialidade e falta de compreensão pelo momento do jogo e a adequação das acções de apoio ou condenação.
      Nunca reprovei a condenação. Reprovo, isso sim, a condenação no momento errado.

      Imbicto abraço!

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      1. Pois é, mas o que fazer? Fazer um teste de portismo à entrada?

        Temos que perceber que hoje são tantos os que vão porque “é giro” como os que vão e sofrem que nem cães.

        Sinceramente, a única solução que vejo é a equipa jogar bem…

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      2. Imbicto LAeB,

        Cheguei a falar sobre isso mesmo no espaço do Miguel Lima.
        É a vida e é o preço a pagar pela dimensão e mediatismo do topo, mas é necessário perceber quando é a atitude daqueles que vêm e vão que está a criar erosão. Faz parte, temos de levar com isto, mas isso não faz deles portistas, mas simples “putos” caprichosos contrariados com a realidade do futebol e das circunstâncias em constante devir.

        Imbicto abraço

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