Casuals só quando convém…

Imbicto leitor,

Já será pouca novidade para a tua pessoa levar com o meu feitio, de cada vez que acontece uma hecatombe. E não, não esperava perder o campeonato esta semana, tanto quanto os outros achavam possível ganhar ao Vitória, mesmo depois de se porem a jeito com mais uma mão bem grande cheia de episódios tristes e autistas, num mundo tremendamente pequeno, resguardado a uma só cor.

Ontem estava a ver o jogo num ecrã dividido em dois com a minha cara-metade, uma vitoriana dos vinte e não sei quantos costados. Como ela, há muitos, numa equipa tão especial quando mística. O Vitória é daqueles quatro ou cinco clubes nacionais  – curiosamente, a esmagadora deles a Norte – que tem qualquer coisa de intangível e que perpassa o simples circunstancialismo da escolha, da geografia, ou da imposição sucessória. Juntamente com clubes como o Varzim, o Leixões, o Famalicão e o nosso Imbicto Porto. Há ali qualquer coisa estranha que não deixa compreender o que é a quem não está lá dentro, mas antes a quem é de outros clubes com semelhante sentimento de brio próprio.

E eu ontem apostei, com toda a certeza do mundo, que o Benfica não sairia vivo dali. Felizmente e infelizmente, tinha razão. E infelizmente, porque já todos devem ter percebido o que se passou nas imediações do estádio e dentro do mesmo, em actos incompreensíveis de todas as partes -nomeadamente da imprensa, que estava mais empenhada em fazer um esforço hercúleo para descolar um grupo de adeptos identificados como benfiquistas da sua aparente e vestida condição, designando-os por: “um grupo de adeptos”.

E gostaria de dividir esta minha linha de pensamento em dois posts: na da circunstância futebolística e na da circunstância portista…

Começando pelo todo, não entendo. De facto, não entendo onde isto irá parar. A cegueira quase dogmática de algumas redacções tem levado à lógica do pensamento único, tão típico de regimes que todos já devem ter estudado e também dos quais já ninguém se lembra. Há uma aparente desculpabilização de actos por parte de alguns agentes, dos quais destaco a fabulosa frase do “dictónico” Bento Rodrigues, pivô dos Jornais da Tarde da SIC, com a pérola: “acontecimentos de Guimarães que talvez tenham motivado os acontecimentos do Marquês (…)”. Existe uma estupidificação militante das massas, falando e agindo em consonância com aquilo que as maiorias querem ver.

Recordo-me de um episódio muito triste:

record casuals

Isto deveria fazer-nos reflectir…

Haverá, com toda a certeza, malta que não entende um boi daquilo que para aqui estou a falar, mas para aqueles que entendem, sintam-se convocados a discutir e a revoltarem-se contra diferenciações de comportamento, desculpabilização da marginalidade pelas razões do costume, duns coitadinhos de não sei quê, que tiveram infâncias difíceis e sem oportunidade, convocando prontamente os psicólogos e sociólogos convenientes, daquelas correntes também elas tornadas em pensamento único científico.

Está TUDO mal. E continuará a estar… E isso sim, está na origem de actos como os de ontem, quando uma comunicação social parcial, tendenciosa e amnésica abre alas ao pensamento único, à defesa indefensável de roubos de armazéns de lojas de clubes que não o seu, a ataques concertados com petardos sobre famílias, a pedras e garrafas arremessadas, culpabilizando a PSP. Enfim… Incontável o número de episódios que, quando bate à porta das suas cores, é prontamente abafado, servindo-se das imagens para contar estórias diferentes das que os olhos vêem. E tudo isso gera loucura. Cada vez mais. Cada vez mais impunidade: de adeptos tresloucados ou bêbedos, de casuals, de grupos ligados a claques (muitas delas ilegais). Tudo isto leva a que, infelizmente, a sociedade se torne numa entidade onde, independentemente do que tenha feito um adepto benfiquista, é agredido aos olhos dos filhos, vendo agredir o próprio pai, num disparate que se tentou, a todo o custo, colar à vergonha que e deu ontem, no Marquês.

Como no caso acima, não há comparação. E não a há, porque não existe proporção nos meios que levam à retaliação. E assim se auto-destrói aquilo que deveria ser um mundo de rivalidades, mas que se transforma num mundo de divinizações dogmáticas, recalcadas e sedentas de coisa nenhuma.

Continua…

Imbicto abraço!


Imagem de capa: Guimarães Digital

5 pensamentos sobre “Casuals só quando convém…

  1. e não esquecer que os (literalmente) braços armados “nn” e “diabos” são i-l-e-g-a-i-s aos “olhos” da Lei em vigor. mas, mesmo assim, beneficiam de apoio por parte das autoridades, e em condições ímpares. por exemplo, escolta policial desde a entrada na cidade InBicta e patrulha aérea, via helicóptero… não é para qualquer um…

    abr@ço
    Miguel | Tomo III

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