Perder o 3º lugar: uma necessidade

Imbicto leitor,

Já não há nada a dizer. Neste momento, já não me sinto humilhado como portista, já não me sinto envergonhado, já não me sinto ofendido… Simplesmente, já nem me sinto. Estou consternado, anestesiado, cristalizado. Tiraram-me essa faculdade tão autêntica de ser portista como se de um cativeiro se tratasse. E para tudo isso: só desculpas. Desculpas esfarrapadas e silêncio.

É essencial separar do jogo de ontem duas dimensões: a do poder competitivo e a do poder desportivo. Um é sempre mais forte do que o outro e o segundo venceu. E venceu porque nos deitou abaixo desde o início, fazendo-se de cego e indiscriminado na avaliação e no critério. Ainda a isto, que se some a pouca vergonha e chacota em que nos tornámos, a avaliar pala forma descarada com que somos, semana após semana, ridicularizados e ignorados pelos jornaleiros e comentadeiros desta mediocridade ocidental, com festejos incontidos em vários canais (de rádio e TV) onde estava a ser transmitido o jogo, bem como a ausência total de algumas repetições em tempo pertinente – nomeadamente da falta sobre Danilo que antecede um lance de perigo do Braga, levando a bola ao poste – já para nem tocar na escandaleira dos penáltis, ou na expulsão justa, mas pouco coerente do sistema “arbitrário” a Peseiro… E se até nos sobrepusemos num primeiro momento, desportivamente, de forma rápida fomos comidos, deixados levar pela corrente e pelo cansaço de uma equipa que, semana após semana, parece vir da pausa de Verão.

Toda a gente viu o que se passou, portanto, não vou chover mais sobre o molhado. Nem sobre um certo palerma que andou ali para o meio a fazer de conta, nem da SAD. Muito menos da SAD. Muito menos de quem destrói o que fez a favor de não sei bem quê(m).

Está na hora de acordar. E se o poder que se semeia começa a limitar a escolha do militante da base, que haja alternativa credível por parte de quem, de facto, ama o Porto e seja reconhecido como um exemplo.

Concluindo, depois de ontem, num jogo onde, independentemente das variáveis, o Braga foi claramente mais forte e bem orientado por um treinador que – repito – é bom mas veio no momento errado, o FC Porto tem de perder o 3º posto para o Braga. Deve. Tudo porque o paradigma só assim acabará. O paradigma e o estado de coisas viciado, pois sem 3º lugar não existe a possibilidade de lutar por Champions nenhuma, não existe a possibilidade de montra para os que cá estão, forçando a sua saída; não existe a possibilidade de captar quem poderia vir e, deste modo, continuar a evitar o que se tem passado, favorecendo conveniências e entrepostos; não existe a possibilidade de vir outro treinador de topo para se queimar e achar que a culpa é sua e não dos incompetentes em que se tornaram os nossos dirigentes, mantendo Peseiro no cargo para que se assuma, de uma vez por todas, as escolhas até ao fim e forçosamente; deixa de haver a possibilidade de pagar altos salários, obrigando a um reset a todos os níveis; deixa de haver patrocinadores tal como conhecemos; deixa de haver compadrio à escala que vemos; não será possível manter a mediocridade de adeptos cuja habituação os transformou, ou trouxe, acéfalos; obriga-se a que se entenda a nível nacional a importância do FC Porto num contexto europeu, de essencial que se torna a necessidade de pontos para ter três equipas com possibilidades de ir à CL.

Tudo o que envolve este FC Porto é uma anedota – desde os silêncios cuja quebra, agora, é tardia e sempre inadequada (a Dragões Diário não é o presidente, ou o Antero-smartphone-Henrique) – à mediocridade do canal que adquiriu para dar prioridade a programas de merda, despachando análises de jogos, ou interrompendo partidas em que intervêm as equipas profissionais de várias modalidades do clube por causa de discursos presidenciais cheios de lugares comuns, falando sobre temas desactualizados e retomando as transmissões perto do final do jogo.

Resumindo, continuem a acreditar que a culpa é do Lopetegui.

Imbicto abraço

 

18 pensamentos sobre “Perder o 3º lugar: uma necessidade

  1. Sai do café ainda estava 2-1… acabo de saber agora quando entro na bluegosfera que ainda houve tempo para um terceiro do Braga.
    Isto não é o clube que me lembro de ainda há um tempo recente. Será que é karma por termos “roubado” um campeonato aos 92? Como é que é possível que a mesma equipa surpreende ao vencer na luz, desilude a jogar na pedreira? Realmente havia jogadores mais inertes que as rochas que circundam o estádio.
    Não contava com titulo este ano, mas contava com luta até ao fim.
    3 épocas de más escolhas, com má gestão, de jogadores que têm mais nome e que custaram mais do que o que realmente jogam…
    Realmente é preciso fazer um reset total a este clube.

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    1. Imbicto Tiago Santos,

      Não sei se será um preço a pagar por essa rebeldia do minuto K. O que sei é que o miúdo foi mandado embora e, com ele, gente que dava jeito em muitas posições em défice.
      Karma ou livre arbítrio, o resultado é o que se vê.

      Imbicto abraço!

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    1. Imbicto Iur,

      Por falar em Jesualdo, ainda ontem o seu adjunto dos tempos do FCP falou para criticar a situação actual e fazer crer que, embora matematicamente possível, só há hipótese nessa premissa.
      Parece que a DD é suficiente…

      Imbicto abraço!

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  2. Com grande tristeza que concordo com a sua análise.
    A sabedoria da velha máxima: “Dar um passo atrás para poder dar 2 à frente”. É o que o Porto precisa. A minha dúvida é se chegará um passo atrás. Acho que a dimensão dos problemas exigem 3 ou 4.

    Abraço, P. Torres

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    1. Imbicto P. Torres,

      A situação é, de facto, bastante delicada. Montou-se uma teia. Basta que as peças fundamentais saiam para que se desmonte. E se não saírem, só a estrutura que a suporta na base pode abalar o seu equilíbrio…

      Imbicto abraço!

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  3. Concordo com tudo. Nao podemos continuar a arranjar desculpas quando nao fazemos a ponta dum cú para ganhar um jogo.

    Perder o acesso a Champions por muito merd@s que fosse ia fazer sair de cena todos os interesseiros.

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  4. Acho extraordinário como ainda é portista e um confesso admirador desse extraordinário Lopetegui.
    Desejar que o F. C. do Porto não alcance o 3º lugar é a maior prova de amor que tenho visto, dos que, alguém, com felicidade , apelidou de Zelotas.
    Não desespere, pelo menos este ano vamos a uma final e quem sabe, ainda poderemos ganhar um troféu.
    Muito melhor que na época transacta, com esse génio, não lhe parece?

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    1. Imbicto Pedro,

      Mais ou menos zelotas, todos queremos o mesmo – quer acreditemos numa coisa, ou noutra. Quem sugeriu tal nome já veio aqui, a este espaço, dar explicações sem que tivessem sido pedidas. A discussão terminou aí, independentemente das interpretações. Portanto, o peditório aqui não colhe.

      Se sou mais, ou menos portista por ter uma perspectiva de recomeço total, avalie o Pedro. O Pedro e todos os outros que consigo, ou comigo concordam. É, portanto relativo.

      O Lápis Azul e Branco foi, ao contrário de mim e praticamente desde sempre um opositor de Lopetegui. Porém, é um dos melhores exemplos de coerência, ao defender que, apesar da sua posição, o melhor para o FCP seria que permanecesse. Até hoje, continua convicto de que não era treinador para o Porto, assim como continua a ver a sua razão bem empregue, quando defendia a sua permanência. E porquê? Porque apesar de eu e do LAeB termos tido pontos de vista diferentes sobre as capacidades técnicas “do basco”, ambos temos a consciência de que o menor dos problemas era Lopetegui. E, caso tenha esquecido, eu próprio defendi a saída de Lopetegui – não pelos resultados, mas pela forma insustentável em que se tornou a convivência entre todos devido ao desgaste.

      Portanto, o Pedro continua a achar que a culpa é do treinador, ou de outra coisa qualquer que não aponta e que desconheço. Lopetegui, esse traste de basco já lá vai. E agora? Ainda quer recomeçar a tocar a escala pelo ré em vez do dó?

      Imbicto abraço!

      P.S.: Para que fique claro, não sou admirador nenhum de Lopetegui. Acho que é um bom treinador e tem os números e a estatística a seu favor. E já que lhe aplicámos a culpa da forma forjada como tudo foi preparado no ano passado, espero que este ano ninguém aplique tal razão para defender este treinador (que poucas responsabilidades tem), ou a esfíngica SAD.

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      1. Verdade, a esfíngica SAD têm os números e estatísca de títulos a seu favor, enquando o basco e este treinador que não tem culpa de nada, nesse capítulo são zeros absolutos.

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      2. Imbicto Pedro,

        Todos têm culpa – até nós.
        A questão não é a do percentual, mas a da origem. Ninguém retira à direcção os méritos que teve, mas também ninguém lhe pode tirar os deméritos que tem.

        Imbicto abraço

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