Metamorfose

Imbicto leitor,

Não diria Kafkiano, mas não deixa de ser um fenómeno curioso. Vale o que vale, sem euforias; uma vitória de valor, mas pouco valorizável devido às circunstâncias.

Começou um pouco na linha do mesmo, o jogo do FC Porto contra o Boavista. O onze repetiu-se e, com ele, as amarras inevitáveis que, apesar de estarem já fora dos corpos, ainda reflectem habituação natural a tanto tempo de disciplina. Mas começava a ver-se algo de novo: passes em progressão e, tal como com Castro em momento de transição contra o Benfica, passes diagonais de ruptura nas costas da defesa contrária.

Aos poucos, aconteciam coisas interessantes. Começávamos  a reparar que Danilo Pereira estava sozinho -quando a solidão é boa – e que Herrera tomava o papel principal. De repente, tudo começava a fazer sentido mas, convenhamos, o Boavista ajudou sem querer.

A equipa do Bessa vem de uma fase complicada. É raro ganhar e, obviamente, seria uma das equipas mais interessantes para começar a dar a volta. Mas o Rio Ave altamente desfalcado também o era e viu-se… Portanto, é tudo uma questão de vontade da força e não de força de vontade.

O primeiro golo saiu impecável. Corona começava a animar a malta e a fazer das suas enquanto Àbombakar tentava reganhar num jogo a confiança que não tinha há muitos… E os axadrezados caiam aos molhos. Um aqui, lesionado. Outro ali e, a vinte minutos do final, o berro na condição física da equipa com a contribuição anímica de Corona e da sua genialidade no melhor momento do Boavista.

O meu maior destaque vai, claro está, para Rui Barros. Uma pequena/ Grande pessoa que soube estar no banco. Sim, porque também é preciso saber estar no banco em vez de passar a vida aos berros numa gritaria que dava cabo da malta das primeiras filas dos estádios por onde passava Lopetegui, numa das maiores críticas que lhe fazia habitualmente, nessa forma de tornar complexo e sôfrego o natural, passando aos pupilos o tilintar cojonero (espero que não tenhas visto o jogo, Lope…).

E mais! Rui Barros soube fazer a gestão da equipa de uma maneira muito interessante. Muito, mesmo. Manteve a matriz inicial, desligou pequenas incompatibilidades como as posições de Danilo e de Herrera e mandou jogar para a frente, em luta, no meio daquelas condições atmosféricas e daquela coisa verde aquosa onde se jogou, ora contra, ora a favor do vento semi-ciclónico. Houve ainda a oportunidade de ver Imbula a ganhar confiança e a ter momentos muito prometedores e curiosos.

Obviamente que não há razão para embandeirar em arco. Porém, há razão para estar aliviado. Agora, finalmente, respirámos fundo. Recomeça uma nova etapa. Sem euforias, até porque a transição custa. Há que entender o momento e, agora sim, ter paciência.

Imbicto abraço!

P.S.: Excelente exemplo dos adeptos do FC Porto presentes no estádio.

6 pensamentos sobre “Metamorfose

  1. Manteve a matriz inicial, desligou pequenas incompatibilidades como as posições de Danilo e de Herrera e mandou jogar para a frente.
    Simples, porque o futebol é simples. Bastou desligar o complicómetro Lopetegui

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  2. De acordo com o comentário do Bibota, mas não só…
    Os meus bitaites:
    a) Os dragões não jogaram melhor na 2ª parte… Aconteceu foi que os panteras entraram no inicio do jogo a todo o gás e esgotaram o combustível todo na 1ª parte.
    b) Na 2ª parte o Boavista foi obrigado a abrir devido ao cansaço e às lesões, dando origem ao aparecimento das figuras portistas que passaram a dispor de mais espaço para progredir com a bola e demonstrar a sua imensa qualidade, eis aqui na minha opinião o segredo da goleada.
    C) Claro está que também e foi notório, o dedo do Rui Barros na disposição e na atitude dos jogadores…!

    Abraço Portista
    http://www.dragaoatentoiii.wordpress.com

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  3. A diferença que faz ter alguém com a experiência de jogador internacional que Rui Barros tem / teve nomeadamente no saber gerir as suas emoções durante o jogo.

    Julen Lopetegui tinha (para o bem e para o mal) uma abordagem didactico-ditatorial que tomava por miúdos jogadores feitos. Não é a primeira vez que vejo este tipo de nervosismo à flôr da pele dos treinadores resultar em contrariedade por parte dos jogadores.

    RB deixou-os fazer o seu trabalho. Deu-lhes a confiança que JL lhes retirava a cada intervenção durante os 90-ish minutos de cada jogo.

    Quer isto dizer que RB é melhor que JL? Não. Mas quer dizer que RB aprendeu ‘a priori’ uma lição qur JL ainda terá de aprender se quiser evoluir na sua carreira de treinador: Quem joga são os jogadores e há que os deixar jogar o melhor que sabem. Treinar é durante a semana.

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    1. Imbicto hmocc,

      Concordo em relação à análise de JL. O nervosismo passava aos jogadores, claramente. Essa foi, aliás, uma das minhas grandes críticas.
      Quanto à experiência internacional, creio que possa ser uma falsa questão, até porque o que conta é, acima de tudo, a experiência de banco que é bem diferente da de jogador. Bielsa é, aliás, um grande exemplo disso.

      Rui Barros tem a seu favor a casa; nós. E ainda mais conhecê-la; conhecer-nos. Para além do mais, ele e nós, sabemos que é uma solução a prazo, o que retira, à partida, toda a pressão que se possa ter.

      Brevemente saberemos quem se segue…

      Imbicto abraço!

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